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O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno, diz que a visita ao Brasil do Papa Francisco "ajuda" a conter a evasão de fieis católicos para outras denominações religiosas.
Leia abaixo trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu ao Blog.
Blog - Nos primeiros gestos, o Papa Francisco pede que a Igreja vá às periferias. Isso é uma determinação da Igreja?
Dom Raymundo Damasceno - Não, esse desejo já é expresso por exemplo, para nós aqui na América Latina, muito claro com a conferência de Aparecida. O documento final da conferência nos fala de um modo muito explícito que a missão da Igreja de levar o Evangelho é uma missão que deve alcançar todas as pessoas, portanto em todos os lugares. E nós [...] que as nossas paróquias realmente se transformem, se renovem, entende? E que, ao invés de praticar uma pastoral de manutenção, de conservação, a paróquia seja de fato missionária, isto é, que ela se sinta enviada a ir ao encontro das pessoas mais distantes, mais afastadas, sobretudo daquelas que estão nas periferias. [...] Porque a paróquia, a matriz, digamos assim, ela tem um raio de ação limitado. [...] Daí a necessidade muitas vezes de você criar outras comunidades ao redor da matriz, ao redor da paróquia, nas periferias, formando uma verdadeira rede de comunidades. É o que nós dizemos: comunidades de comunidades, isto é, uma nova paróquia, onde você abre espaço para os leigos, para os religiosos, onde o ministério não ordenado, o ministério conferido aos leigos, onde ele pode exercer esse serviço nas comunidades, reunindo as pessoas, celebrando a liturgia da palavra, entende? Isso é fundamental.
Blog - O papa Bento XVI demonstrava uma preocupação com a evasão de fiéis para as denominações evangélicas. Como reverter isso?
Dom Raymundo Damasceno - Eu acho que nós revertemos isso na medida em que a Igreja toma consciência de que ela é, por natureza, missionária. Ela tem a missão dada por seu fundador Jesus Cristo de levar o Evangelho a todas as pessoas e em todos os lugares. Então nós temos que recuperar esse entusiasmo, esse ardor missionário. Mas isso só se faz a partir de uma experiência profunda, pessoal, de cada um com Jesus Cristo. À medida em que o Cristo se torna o tesouro da minha vida, em que ele dá sentido ao meu viver, ao meu existir, através das suas palavras, das suas atitudes, então eu me sinto também impulsionado a torná-lo conhecido e amado pelas outras pessoas que ainda não o conhecem, não o amam e não o imitam.
Blog - Foi por isso que essas denominações evangélicas acabaram chegando às periferias?
Dom Raymundo Damasceno - Sem dúvida nenhuma. Primeiro porque nós não tínhamos um número suficiente de ministros ordenados. Então, o padre não conseguia ir ao encontro dessas pessoas, porque a atividade dele na paróquia são muitas as atividades. Então ele sozinho muitas vezes não consegue. Daí a necessidade de formar os nossos leigos, de fazer deles verdadeiros discípulos de Cristo, e, sendo discípulos, eles devem se tornar missionários, portanto, colaborar na missão da Igreja de levar o Evangelho a todas as pessoas, delegando a eles determinadas responsabilidades, determinados serviços, para que eles, em comunhão com o pároco, em comunhão com o bispo daquela Igreja particular, possam também realizar determinadas tarefas, a serviço daquele povo sobretudo na periferia.
Blog - O que levou a essa evasão no maior país católico do mundo?
Dom Raymundo Damasceno - Eu creio, em parte, o aumento da população urbana. Nosso país se tornou realmente um país urbano. A população rural hoje está bem diminuta. Hoje nós temos 80%, senão mais, da população concentrada nas cidades no Brasil. Em que isso resultou? Nossas cidades incharam. Nós tínhamos um número limitado de sacerdotes e de religiosos em geral. O número das vocações não cresceu - para os padres e para as religiosas - proporcionalmente ao crescimento da população. Então, é claro que parte dessa população ficou descoberta no atendimento espiritual, no atendimento pastoral. E é claro que, normalmente, as igrejas evangélicas, sobretudo neopentecostais, se dirigiram sobretudo para as periferias das nossas cidades, sobretudo para as periferias, porque, de certo modo, no centro, há uma presença, ainda que não tanto de padres, mas há uma presença visível da Igreja enquanto estrutura, organização, no centro das nossas cidades.
Blog - A presença do Papa Francisco no Brasil ajuda a dar um novo impulso nesse momento de conter essa evasão?
Dom Raymundo Damasceno - Eu creio que ajuda em parte, né? Porque é claro que ninguém muda de uma religião para outra só pela visita do Papa. O Papa cria um clima de simpatia à Igreja, está criando esse clima. Isso é muito positivo, sem dúvida nenhuma. Agora, o fundamental é o trabalho nosso de cada dia, é o nosso testemunho cristão - seja do padre, do religioso e do leigo, evidentemente. [...] Então, acho que nós temos que ser uma Igreja samaritana, como nós dizemos, uma Igreja solidária com todos, mas sobretudo com os mais pobres, com os mais necessitados.
Blog - O Brasil vem vivendo canonizações. Essa política de santos agora no Brasil ajuda a reconquistar fiéis?
Dom Raymundo Damasceno - Ajuda, ajuda. Eu creio que isso começou com o Papa João Paulo II. Ele canonizou, beatificou muitas pessoas. Homens, mulheres, jovens, casais, de todas as profissões. E ele caracterizou muito o seu pontificado por essa atuação dele. Isso despertou também em nós, na América Latina, no Brasil, que nós também temos santos, pessoas que viveram como discípulos de Cristo, procuraram viver o Evangelho na sua vida, às vezes desconhecida das pessoas. Isso nos incentivou a buscar pessoas que deram um testemunho de vida cristã, de certo modo heróica, ou acima do normal, pesquisar a vida dessas pessoas, buscar documentos nesse sentido, e começar a torná-las conhecidas no meio do nosso povo, e até invocá-las pedindo de Deus a proteção através dessas pessoas.