O advogado da família do pedreiro Amarildo de Souza, que está desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi abordado por policiais da UPP da Rocinha, na Zona Sul do Rio, informou que entrará com uma "ação de justificação de morte presumida" nesta segunda-feira (5). Segundo João Tancredo, a família não tem dúvidas de que Amarildo está morto.
"Em um primeiro momento, para iniciar qualquer outro processo, deve ser declarada, presumida, a morte do Amarildo. A exemplo do que aconteceu no voo da Air France ou no caso de desabamentos, em que não há o corpo. Para que você inicie alguns procedimentos, você precisa ter a certidão de óbito. E a família não tem nenhuma dúvida de que ele está morto", explicou João Tancredo.
Ainda segundo o advogado, de posse da certidão, a família entrará com uma ação indenizatória contra do estado. Ele espera ter acesso à declaração de morte de Amarildo em três dias.
"De posse [do documento], já faço a ação de indenização. Ele era trabalhador e conseguia arrecadar um salário mínimo. Eu entrei na casa deles que é muito pobre. Eles vivem em um cômodo único, com quarto, banheiro e cozinha juntos. Vou pedir de antemão o pagamento de uma pensão de um salário mínimo", afirmou Tancredo.
O advogado informou ainda que acredita que a decisão sobre a pensão de um salário mínimo pode sair já na segunda-feira (12), dependendo do juiz.
"Para a família, ele está morto. A mulher dele o viu sendo colocado dentro da patrulha, ele sendo algemado. Segundo testemunhas, o major proibiu a subida de quaisquer pessoas a esse ponto mais alto da comunidade pra onde ele teria sido levado. O fato concreto é que uma câmera funcionava, mas não tinha imagem dele passando, as outras não funcionavam e o GPS estava desligado. Isso testemunha afirma: que ele saiu da UPP dentro de um carro da polícia", acrescentou João Tancredo.
PM é intimado
A Divisão de Homicídios intimou o policial militar Juliano da Silva Guimarães a prestar depoimento após a denúncia feita pelo PM, lotado na Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. Guimarães, segundo a Polícia Civil, teria dito que um tio dele, motorista da Comlurb, foi obrigado por traficantes a transportar um corpo ao lixão do Caju, na Zona Portuária do Rio. A Polícia Civil informou que o PM será ouvido, no entanto, não há informação de data e horário.
Perícia na UPP
Na manhã deste sábado (3), agentes e o delegado da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, ouviram depoimentos de testemunhas e fizeram uma perícia na sede da UPP na comunidade. Peritos usaram luminol - sustância química que permite encontrar vestígios de sangue, mesmo que o local tenha sido limpo - na sede da UPP. No entanto, o resultado do exame não foi divulgado.
GPS e câmeras desligados
Os investigadores querem saber o motivo de os aparelhos de GPS dos carros da UPP, e duas câmeras de segurança da comunidade não estarem funcionando no do desaparecimento de Amarildo. Policiais tentam encontrar imagens de câmeras de prédios e de pontos comerciais de São Conrado que possam ajudar a esclarecer o caso.
Na quinta-feira (1º), moradores da Rocinha fizeram uma passeata para cobrar uma resposta sobre o caso e criticaram a ação da PM. No Leblon, o grupo se juntou a manifestantes que acampam próximos à casa do governador Sérgio Cabral.
Em Brasília, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, considerou a polícia como a principal suspeita do crime. Em resposta à declaração, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que é prematuro apontar culpados já que a investigação ainda está em curso.