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Uma mulher de 55 anos morreu na Espanha depois passar por um tratamento de "acupuntura de abelha" e sofrer uma reação alérgica que a deixou em coma. O procedimento de medicina alternativa envolve a injeção de veneno de picada de abelha no corpo, ao contrário da acupuntura tradicional que utiliza agulhas. Essa foi a primeira morte registrada em decorrência do tratamento. De acordo com um relatório escrito pelos médicos da vítima e publicado no Journal of Inverigational Allergology and Clinical Immunology, a mulher vinha participando dessas sessões em uma clínica privada a há dois anos para combater estresse e contraturas musculares. A apiterapia é um dos novos procedimentos recentemente incluídos no Sistema Único de Saúde brasileiro.
Segundo o Medical Daily, na última sessão do tratamento, a mulher, cuja identidade não foi divulgada, sentiu efeitos adversos, como: sibilância, dispneia (ou dificuldade para respirar) e perda súbita de consciência logo após uma picada de abelha viva. No hospital, a pressão sanguínea da paciente caiu drasticamente, o que causou um acidente vascular cerebral maciço e coma permanente. Algumas semanas após o incidente, a mulher morreu de falência múltipla de órgãos. Os médicos da espanhola relataram que ela não tinha registro de outras doenças, incluindo problemas cardíacos ou asma, e não tinha tido nenhuma reação alérgica anterior ao tratamento até sua última consulta.
"As terapias que envolvem abelha existem há milhares de anos e algumas podem ser tão antigas quanto a própria medicina humana", afirmaram os pesquisadores do Hospital Universitário Ramón e Cajal, na Espanha, no artigo. Apesar de não haver estudos científicos que comprovem a eficiência do tratamento, ele se popularizou quando a atriz americana Gwyneth Paltrow, conhecida por filmes como "Shakeaspeare apaixonado" e "Homem de Ferro", começou a promovê-lo como forma de tratar dores no corpo e inflamações.
Segundo a American Apiterapy Society, a "acupuntura de abelha", ou apiterapia, é o uso medicinal de produtos feitos por abelhas melíferas como mel, pólen, geleia real, própolis, cera de abelha, além de incluir o uso do veneno da própria abelha. Para executar o tratamento, em vez de usar agulhas, comuns à acupuntura tradicional, o acupunturista coloca uma abelha no corpo do paciente e aperta a cabeça do inseto até que ela atinja o ponto desejado na pele. O contato estimula os nervos e, segundo os profissionais dessa área, isso ajuda a liberar endorfinas no cérebro, promovendo o processo de cura. No entanto, os benefícios para a saúde e os riscos desse tratamento vêm sendo debatidos na comunidade médica.
Enquanto alguns estudos mostraram que acupuntura com agulhas é eficaz no combate à dor crônica e à depressão, os cientistas também alertam que os problemas metodológicos dificultam a confirmação desses achados. "Os testes de acupuntura envolvem muita variabilidade, especialmente em relação à depressão", explicou o acupunturista Hugh MacPherson, pesquisador sênior da Universidade de York, na Inglaterra, à revista Scientific American. Ele destaca evidências de ensaios clínicos, incluindo um em que pacientes em uso de antidepressivos que receberam acupuntura se sentiram melhor do que pacientes que apenas tomaram a medicação.
Entretanto, em 2013, o farmacologista David Colquhoun e o neurologista Steven Novella publicaram uma análise do procedimento na revista Anesthesia and Analgesia, afirmando que os benefícios da acupuntura são provavelmente inexistentes ou muito pequenos e transitórios para ter qualquer significado clínico. Muitos cientistas sugerem que o tratamento parece funcionar apenas por causa do efeito placebo, um fenômeno em que a crença de um paciente em seu tratamento pode convencer seu corpo de que está realmente funcionando.
Uma pesquisa de 2015 publicada pelo o Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, nos Estados Unidos, indicou que quase 29% dos pacientes que optaram pela apiterapia apresentaram efeitos adversos. No mesmo ano, o Journal of Integrative Medicine e a revista PLoS Medicine destacaram a pouca credibilidade dos estudos que elogiam os benefícios da terapia com abelhas, desvalorizando potenciais efeitos secundários.
Mesmo com as críticas e as contra-indicações médicas, é a primeira vez que há registro de uma morte por causa dessa modalidade. "Este é o primeiro caso conhecido de morte por apiterapia devido a complicações de uma anafilaxia grave num paciente sensível que era, até aí, tolerante. Mas uma tolerância prévia às picadas de abelha não impede que possam surgir reações de hipersensibilidade posteriormente", disseram Paula Vazquez-Revuelta and Ricardo Madrigal-Burgaleta, médicos da espanhola. Ainda de acordo com o texto da equipe médica, uma exposição repetida ao veneno das abelhas aumenta o risco de reações adversas, até porque a segurança e eficácia da técnica não está comprovada por estudos científicos.