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Os parisienses só voltarão às urnas para as eleições municipais em 2020, mas a presença de ratos na capital francesa já está pautando as candidaturas dos postulantes ao cargo de prefeito.
Uma pesquisa recente mostrou que 58% dos parisienses estão insatisfeitos com a administração de Anne Hidalgo e que apenas 29% votariam nela se as eleições acontecessem hoje - e a população de roedores da cidade é um dos problemas com os quais ela está lidando no seu cotidiano à frente da prefeitura.
Já na Nigéria, o presidente Muhammadu Buhari precisou trabalhar de casa durante várias semanas no ano passado, depois que ratos infestaram seu escritório.
Chicago, uma cidade americana associada a muitos símbolos, incluindo a música e os esportes, é hoje conhecida como a "capital dos ratos" dos Estados Unidos.
Na Indonésia, estima-se que as perdas anuais de colheitas de arroz decorrentes de danos causados por roedores estão na ordem de 17%.
Se isto é uma guerra, então os humanos estão perdendo. E as coisas estão fadadas a piorar: cientistas alertam que a urbanização crescente e o aquecimento global provocarão aumento nas populações de roedores em todo o mundo.
Os ratos não representam um risco apenas para carreiras políticas.
Eles espalham doenças, comprometem a segurança alimentar e causam estragos em estruturas criadas pelo homem. Um estudo da Universidade de Cornell, por exemplo, estima que estes animais causam prejuízos de US$ 19 bilhões (cerca de R$ 74 bilhões) todos os anos nos Estados Unidos.
Sobre as populações humanas, a estimativa das Nações Unidas aponta que, até 2050, quase 70% das pessoas em todo o mundo viverão em cidades - acima dos atuais 55%.
Mais pessoas e mais prédios nas cidades significam mais comida e abrigo para os ratos, que há milhares de anos têm vivido bem perto dos seres humanos para aproveitar o que deixam para trás.
Uma espécie, mais do que qualquer outra, representa um grande problema: o Rattus norvegicus, conhecido como ratazana ou rato-castanho, um dos tipos mais comuns.
Temperaturas mais altas levarão a ciclos reprodutivos mais longos - ou seja, com o nascimento de mais filhotes -, o que não pode ser menosprezado no caso do roedor. De acordo com especialistas, um casal de ratos pode criar um ninho com 1.250 indivíduos em apenas 12 meses.
"Os ratos são um inimigo terrível e precisamos aceitar que é impossível erradicá-los. Matá-los não funciona, porque os que ficam para trás podem se recuperar rapidamente", explicou à BBC Steve Belmain, professor de ecologia da Universidade de Greenwich, em Londres.
"Uma ratazana fêmea já pode ter filhotes às 5 ou 6 semanas de idade, por exemplo", diz o cientista.
Belmain faz parte de um grupo de pesquisadores que tentam alterar o "discurso militar" na abordagem dos problemas criados pelos ratos.
"O problema que temos com a abordagem da guerra é que estamos simplesmente reagindo ao inimigo em vez de planejarmos proativamente antes de atacar", diz Michael Parsons, biólogo da Fordham University, em Nova York.
"Não ajuda o fato de sabermos muito mais sobre pandas gigantes do que sobre ratos-castanhos. Existe uma escandalosa falta de pesquisas sobre eles".
Para ilustrar seu desânimo, Parsons cita uma estatística surpreendente: alguns pesquisadores calcularam que os ratos causaram mais mortes do que todas as guerras combinadas nos últimos mil anos.
Estes animais foram associados, por exemplo, à peste negra, uma pandemia de peste bubônica que dizimou um terço da população da Europa no século 14. Alguns cientistas, no entanto, têm questionado se são os roedores, e não pulgas e piolhos humanos, os verdadeiros culpados pela pandemia.
"Os ratos não vão embora, porque aprenderam a viver perto de nós e a não se assustar com os humanos. Ainda assim, estamos incrivelmente no escuro no que sabemos sobre seus hábitos", critica Parsons.
A maioria das soluções usadas hoje em dia envolve matar os animais, especialmente por envenenamento. Mas isso cria riscos ambientais e também pode afetar seres humanos e outros animais.
Os cientistas também registraram casos em que ratos desenvolveram imunidade a alguns tipos de substâncias supostamente destinadas a matá-los.
Além disso, de acordo com organizações como o Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), o envenenamento é um método extremamente doloroso para matar estes animais.
"Os venenos são inúteis, perigosos para os humanos e extremamente cruéis, já que os animais passam dias sofrendo antes de finalmente morrerem em agonia", diz um porta-voz do Peta.
"Quando os animais morrem, o aumento resultante na disponibilidade de alimentos provoca acasalamento acelerado entre os sobreviventes e os recém-chegados - e isso significa aumento das populações".
Algumas cidades também apostaram no uso de predadores contra infestações de ratos. Washington, por exemplo, colocou "pelotões" de gatos em plena capital americana.
Mas a pesquisa de Parson foi um grande golpe para esse tipo de iniciativa.
No período de cinco meses em que ele e sua equipe monitoraram uma colônia de ratos no Brooklyn, em Nova York, os gatos conseguiram matar apenas dois de uma população estimada de 150 ratos.
"Gatos e ratos são mais propensos a ignorar ou a evitar um ao outro do que se engajar em conflitos diretos, especialmente depois que os ratos atingem um certo tamanho", explica Gregory Glass, ecologista de doenças da Universidade da Flórida.
Em 2016, a empresa americana Sensetech anunciou ter criado um contraceptivo que poderia tornar as ratas inférteis. Nas palavras da fundadora da empresa, Loretta Mayer, a invenção "mudaria o mundo".
O produto, o ContraPest, foi testado em vários tipos de ambiente e, de acordo com a Sensetech, resultou em uma "redução adicional de 46% na atividade de ratos na comparação com o uso de um método letal sozinho".
O ContraPest foi testado em Nova York no ano passado - acredita-se que a cidade seja a casa de mais de 2 milhões de ratos. Mas alguns especialistas são mais céticos na eficácia deste produto.
"Os ratos que não morderem a isca podem na verdade acabar procriando mais, pois haverá menos competição por comida", disse Peter Banks, especialista da Universidade de Sydney, à revista New Scientist.
O que parece ser consenso é que a interrupção da disponibilidade de comida para ratos é a chave para manter as populações destes animais à distância.
"As soluções são mais básicas do que pensamos. Se as autoridades lidarem com questões como armazenamento de lixo e falta de saneamento, isso pode ter efeitos profundos", diz Steve Belmain.
Com menos comida, os ratos "se voltam para si", de acordo com Mike Parsons.
"A indústria de combate aos roedores é um negócio de bilhões de dólares. Mas ações simples como carregar o lixo consigo em vez de despejá-lo em uma lixeira pública podem ser mais eficazes."
"Com menos comida, os ratos terão que ajustar sua população. Isso implica em se reproduzir menos e lutar uns contra os outros."
Mas, para Jan Zalasiewicz, paleobiologista da Leicester University, se as coisas continuarem como estão, o futuro pode realmente pertencer a ratos.
"Os ratos são um dos melhores exemplos de espécies que ajudamos a espalhar pelo mundo e que se adaptaram com sucesso a muitos dos novos ambientes em que acabaram se encontrando", disse Zalasiewicz à BBC.
"Eles serão protagonistas do futuro geológico da Terra e podem sobreviver aos humanos."
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