Um jantar em família, um funeral, uma festa, um encontro religioso. Todas essas são situações comuns na rotina das pessoas ao redor do mundo, mas que passaram a requerer um cuidado maior durante a pandemia ? mas não para todos. Uma beata sul-coreana foi à igreja, como de costume, tendo sintomas leves que achou se tratar de uma gripe comum. Quando chegou lá, todos os fiéis tiraram as máscaras de proteção para rezar. Ela estava infectada com a covid-19. E pode ter espalhado a doença para pelo menos 43 pessoas.
Em Washington, nos Estados Unidos, 61 participantes de um coral se reuniram, compartilharam lanches e organizaram as cadeiras juntos no fim do evento, sem nenhum tipo de proteção. Um dos cantores, no entanto, estava infectado e não apresentava nenhum sintoma. Depois da confraternização, 53 ficaram doentes, 3 foram hospitalizados e dois morreram por conta do novo coronavírus.
Essas pessoas de contágio mais alto têm nome e definição. São os superspreaders (?superespalhadores? na tradução livre). Por fatores genéticos não identificados, se tornam mais contagiosas do que as outras e dessa forma podem contaminar um número maior de indivíduos.
Para entender o conceito é bastante simples: basta pensar em uma carona hipotética, na qual o motorista está infectado, mas não sabe ou tem sintomas muito leves, e outras quatro pessoas estão no carro com ele. Em um passeio rápido, todos ficam doentes também.
Esse superspreader, então, vai à festa de um colega de trabalho e, entre uma cerveja e outra, contamina mais dez pessoas. Entre essas 14 contaminadas, alguma outra pode ter o mesmo alto poder de espalhamento da doença. Aí essa outra pessoa pega um metrô cheio em São Paulo e, sem máscara, consegue contaminar todo mundo que está no mesmo vagão.
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Pronto.
Essa é a receita perfeita para o vírus fazer mais vítimas.
Um estudo recente sugere que 85% das transmissões são causadas por um superespalhador.
Se o contato desses indivíduos fossem reduzidos em até 25%, a rapidez do contágio da pandemia poderia diminuir.
O ideal seria isolar essas pessoas, segundo o estudo ? mas como nem toda teoria é aplicável na prática, não há uma forma exata de prever quem é um superspreader. A pesquisa também sugere que essas pessoas podem explicar o porquê de uma cidade ou país ser pouco afetada pela doença, enquanto outros estão sofrendo drasticamente.
Mas pessoas que não são ?superespalhadoras? também podem contaminar (e muito) as outras.
?Quando uma pessoa é infectada, em média, o vírus passará para outras duas pessoas. E depois para mais duas. Aí você tem um aumento exponencial na rapidez da infecção?, diz Timothy Springer, professor na Universidade de Harvard.
Como para tudo existe uma teoria, o Princípio de Pareto pode explicar a alta contaminação. Se 80% dos efeitos vêm de 20% das causas, uma pequena parcela de uma determinada população pode acabar sendo responsável pelo contágio da maioria.
Um ?super? que, com certeza, ninguém gostaria de ser.