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Um dia após o Ministério da Saúde confirmar a presença da variante brasileira do novo coronavirus no Rio de Janeiro, o que significa que 10 estados do país apresentam casos da nova mutação, o R7 conversou com Felipe Naveca, médico e pesquisador da Fiocruz Amazonas. Ele apontou que a P.1, como é chamada a variante do Amazonas, pode se tornar o principal vírus a circular no Brasil, assim como aconteceu com a mutação britânica, no Reino Unido.
A rapidez das infecções provocadas pela nova variante é apontada como um dos fatores principais da possível predominância. “Dentre as amostras sequenciadas até novembro, não há sinal da variante. Quando ela aparece, em dezembro, já está em 51 % dos genomas sequenciados. É um crescimento muito rápido, que aponta para um maior poder de transmissão”, explica o virologista.
Os casos de reinfecção com a mutação brasileira também chamam a atenção do pesquisador. Já são três confirmados no Amazonas. Os estudos ainda não indicam se pacientes que já tiveram a covid-19 pegam a nova variante por causa do tempo entre as duas infecções ou se ela é resistente aos anticorpos produzidos para combater o novo coronavírus.
“A 1ª e 3ª reinfecção aconteceram com distância de 282 e 281 dias, respectivamente, entre elas. A 2ª, foram 92. No primeiro caso, a paciente tinha teste IGG positivo, então ela tinha anticorpo para o novo coronavírus. Por termos apenas poucas amostras, não podemos dizer se a reinfecção aconteceu em função do tempo ou se o vírus está escapando dos anticorpos, aí o cenário é muito pior”, alerta Naveca.
A Fiocruz do Rio de Janeiro conseguiu isolar o vírus da variante e, em duas semanas, devem sair os primeiros resultados dos estudos que podem responder mais claramente como é o mecanismo de reinfecção da mutação.
Para conseguir detectar a P.1 em um tempo mais curto, a Fiocruz Amazonas desenvolveu um ensaio de PCR em tempo real que fará uma triagem rápida do tipo de vírus encontrado nos pacientes. “O sequenciamento é caro e mais trabalhoso. Então, desenvolvemos um ensaio em PCR para detectar a P.1 e a variante britânica. Além de fazer uma triagem rápida, conseguiremos detectar a mutação também quando não for possível sequenciar, já que é necessária uma carga viral alta para fazermos o sequenciamento do genoma”, comemora.
A tecnologia começará a ser usada no Amazonas a partir da próxima segunda-feira (22). Em princípio, será encaminhada para os outros estados que têm sede da Fiocruz, que são Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Bahia e Pernambuco, mas a intenção é incluir a testagem em todos os exames PCRs desenvolvidos pela Fundação.
Com tudo isso, será possível descobrir mais casos de infecção com a nova variante, qual é taxa de reinfecção e ter mais claro a transmissibilidade do mutação brasileira.
O que não muda, independentemente de qual tipo é o vírus, é a forma de prevenção, segundo o pesquisador. As mesmas orientações apresentadas desde o começo da pandemia se mantêm: distanciamento social, higienização das mãos e uso de máscara.
Naveca lembra que, se o vírus conseguiu se desenvolver tão rápido, é, também, impulsionado pelas atitudes das pessoas. “Tudo isso acontece devido ao nosso comportamento. Todas as vezes que damos possibilidade para um vírus evoluir, ele evolui. A vacinação em massa ainda não é a solução, temos menos de 10% de pessoas vacinadas. Temos que seguir no distanciamento, no uso de máscaras e na boa higienização das mãos”, reforça o pesquisador.
A mutação brasileira já foi encontrada no Amazonas, Pará, Roraima, Ceará, Paraíba, Piauí, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio de Janeiro.