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O Brasil superou, nesta quinta-feira (5), a marca de 260 mil mortes causadas pela pandemia do novo coronavírus. Segundo especialistas, a tendência é de aumento do número de casos nos próximos dias.
“Não vejo luz no fim do túnel. Isso é o mais desesperador. Precisamos de medidas drásticas de afastamento das pessoas, sem exceções. Nos próximos 15 dias, viveremos os reflexos do que está acontecendo hoje. Os efeitos das medidas do próximo sábado agora serão percebidos no Estado só daqui a três semanas”, afirma o infectologista e intensivista Jaques Sztajnbok, supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, de São Paulo.
Governadores e prefeitos do país anunciaram na última semana uma série de medidas para conter a disseminação do SARS-CoV-2 e resolver a superlotação de hospitais. Entre eles está a criação de novos leitos de enfermaria e de UTIs (Unidade de Terapia Intensiva).
A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Suzana Lobo acredita que a criação de hospitais de campanha não ajuda nesse momento. É preciso cuidado intensivos. “Hospitais ajudam em casos menos graves e em uma situação de crise enorme. Mas não diminui a necessidade da UTI em hospitais. Hoje precisamos de leitos para atender pacientes graves, não enfermaria”, alerta a especialista.
Mas os médicos que trabalham como intensivistas ressaltam que novos leitos de UTI não podem ser vistos como uma solução muito eficaz, uma vez que não existem profissionais capacitados para trabalhar com pacientes de alta complexidade disponíveis.
“Ajuda, mas vamos pensar. Coloco ventilação mecânica, monitor, uma cama e está pronto o leito de UTI. Mas, e as pessoas, e os profissionais para cuidar desse paciente. Eles não são formados de uma hora para outra, a capacitação não é simples. Em São Paulo, por exemplo, não temos concursos públicos há mais de um ano. Então, são contratados serviços terceirizados que saem em busca de profissionais, mas não necessariamente são profissionais capacitados para enfrentar essa emergência sanitária”, lamenta Jaques Sztajnbok.
Suzana Lobo, lembra que uma UTI não é composta só por médicos e enfermeiros. “Tratar de doentes de alta complexidade exige muito dos profissionais e é equipe formada por médico, enfermeiro, fonoaudiólogo, nutricionista, dentista, fisioterapeuta. Sem formação e equipe multidisciplinar, o resultado não é o mesmo”, diz a médica responsável pela UTI do Hospital de Base de São José do Rio Preto.
O supervisor do Instituto Emílio Ribas concorda que as situações mudam de acordo com os hospitais, devido à capacitação correta dos profissionais. “Sabemos que existem UTIs no mesmo Estado, igualmente capacitada e que têm desfechos e resultados totalmente distintos. Por exemplo, na nossa UTI tinha 24% de letalidade e tinha UTI em Pirituba com 80%. Os pacientes não são tão diferentes assim. A doença é a mesma, o equipamento é o mesmo, tem de ter gente treinada e especializada para ocupar esses novos leitos que vão ser criados.”
As pessoas que estão com sintomas da covid-19 ou com parentes doentes devem procurar o atendimento médico, mesmo na situação em que se encontram os hospitais brasileiros. A solução de procurar montar uma estrutura em casa não é indicado por nenhum médico.
“Se o paciente perde tempo montando um esquema em casa, ele começa a deteriorar e pode significar a diferença entre a vida e a morte. Se está no ponto de o paciente montar assistência em casa, vai para um pronto-socorro. Em qualquer PS ele vai ter assistência médico-hospitalar melhor do que em casa”, salienta Sztajnbok.
No começo do ano, em Manaus, as pessoas começaram a procurar por conta própria tubos de oxigênio para ajudar familiares e foi uma decisão ruim, segundo o especialista. “Olha o que aconteceu em Manaus quando as pessoas resolveram procurar oxigênio para usar em casa. Gravíssimo. Tem de ir para o hospital porque vai ter mais chances de sobreviver nos lugares médicos”, afirma Sztajnbok.