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Por ser uma doença que atinge principalmente o pulmão, a covid-19 costuma causar dificuldades respiratórias na grande maioria dos pacientes que necessitam de internação. Mas a queda dos níveis de oxigênio do sangue pode ocorrer sem que a pessoa perceba e mesmo assim representando um risco à saúde.
Médicos explicam que algumas causas podem levar a esse quadro da redução da saturação de oxigênio, mas reforçam, principalmente, que ocorre apenas em cerca de 15% entre todos que têm covid-19.
Conforme o coronavírus se instala no corpo, ele provoca inflamações. Há quem tenha sintomas leves ou moderados. Outros experimentam sinais mais intensos da doença, principalmente após o sétimo dia.
É a partir do início da segunda semana da covid-19 que um pequeno percentual de pacientes pode apresentar queda dos níveis de oxigênio do sangue sem perceber, explica presidente da SBPT, Irma de Godoy.
"A pessoa jovem tem uma reserva respiratória muito grande, porque têm pulmões sadios. Para ela sentir a falta de ar que a preocupe, normalmente demora mais tempo. Às vezes, a pessoa tem uma atividade laboral que ela fica mais sentada, não vai perceber essa queda de oxigênio. Só vai perceber quando tiver uma queda muito grande desses níveis de oxigênio. Aí já pode haver um comprometimento maior [dos pulmões]."
O diretor da Divisão de Pneumologia do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), Carlos Carvalho, acrescenta que a falta de oxigenação do sangue na covid-19 pode ter duas razões — ou ser um misto das duas.
A primeira delas é pela própria inflamação causada pelo vírus quando ele entra nas vias respiratórias.
"O vírus vai causar vermelhidão e inchaço nos vasos sanguíneos do pulmão, vai entupir esses alvéolos e não vai permitir que o ar chegue nos alvéolos para entrar em contato com o sangue e fazer a troca gasosa."
Outro motivo é pelo fato de o coronavírus ter uma atividade de coagulação, provocando entupimento dos vasos sanguíneos pulmonares.
Em quadros assim, o pneumologista diz que até mesmo exames de imagem, como tomografia ou radiografia, vão mostrar que os pulmões estão "relativamente preservados".
"Mas como não passa sangue ali, o oxigênio que está no ar não consegue penetrar na corrente sanguínea porque os vasos sanguíneos estão entupidos. Aí você vai olhar o teste de oxigenação do sangue e dá muito baixo."
A médica pneumologista Elnara Negri, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, reforça a necessidade de fazer o monitoramento da taxa de oxigênio com um oxímetro após a primeira semana de sintomas, que é justamente quando há risco de algumas pessoas (em torno de 15%) terem complicações.
"A partir do sexto dia é importante começar a medir a oxigenação de manhã e à noite e também perceber se a febre retorna."
O nível de oxigênio do sangue em uma pessoa normal deve estar em 97%, 98%. Abaixo de 93%, os médicos entendem que já pode ser um sinal de alerta.
Entenda o que é o oxímetro e como usá-lo
A presidente da SBPT ressalta que alguns indivíduos só procuram atendimento médico quando sentem falta de ar.
"O jovem também tem uma resistência maior a procurar atendimento médico, ele considera que não tem fatores de risco e não vai ter complicação. Normalmente, ele vai ao hospital quando sente a falta de ar, o que vai acontecer depois que o indivíduo já tiver uma diminuição muito grande da quantidade de oxigênio no sangue."
Elnara pondera ainda que a falta de ar é um sintoma é um indicativo de "uma fase mais avançada".
"Se for um quadro em que a pessoa está passando mal, não tem jeito, é melhor ir para o pronto-socorro", recomenda a médica, ao alertar que situações como essa não se resolvem naturalmente.
No hospital, o médico irá avaliar se o nível de oxigênio do paciente está abaixo do desejável e se isso se mantém — é possível haver oscilações na medição com o oxímetro em casa.
"A baixa oxigenação é um marcador bastante importante e é o maior marcador de gravidade. Quando a oxigenação está em um limite baixo e a doença está no início, é melhor ele ficar internado para controle dessa oxigenação e para reposição de oxigênio por cateteres, para, se evoluir para uma nova inflamação que vai fazer uma queda maior [de oxigenação], poder ser prontamente atendido", pontua Carlos Carvalho.
Irma de Godoy, no entanto, frisa que há casos em que as pessoas já chegam com um comprometimento pulmonar importante, sendo necessário recorrer a outras técnicas de suplementação de oxigênio.
Existem cateteres de altíssimo fluxo, ventilação mecânica não invasiva e capacetes-respiradores que podem ser utilizados. Somente se o paciente não apresentar melhora é que os médicos optam pela intubação.
Como o próprio nome sugere, consiste em um tubo inserido na traqueia e que vai até o pulmão para levar oxigênio sob pressão. O procedimento é feito com a pessoa em coma induzido pelo tempo que for necessário.
A posição prona (com paciente de bruços) se mostrou muito eficaz em aumentar a disponibilidade de oxigênio nos pulmões, observa a presidente da SBPT.
"Às vezes, as áreas comprometidas [do pulmão] não estão totalmente fechadas. Se eu utilizar uma técnica de ventilação adequada, posso reabrir algumas áreas e ele pode ventilar por ali."
Seja qual for o tipo de suplementação de oxigênio utilizado, ele tem um único objetivo: manter a pessoa viva enquanto alguns medicamentos e o próprio organismo combatem a doença.
Os remédios — corticosteroides, por exemplo — utilizados somente em ambiente hospitalar têm comprovação científica no tratamento da covid-19.
Além de não fazer uso de drogas como cloroquina/hidroxicloroquina e ivermectina em caso de infecção pelo coronavírus, o pneumologista do InCor orienta a não se automedicar em casa com anti-inflamatórios e antibióticos.
"Começar a tomar corticoide e antibiótico só vai queimar esses medicamentos, você vai gastá-los antes da hora. O corticoide pode baixar um pouquinho a sua imunidade, o antibiótico pode eliminar os germes mais vulneráveis e se o paciente for ter uma infecção lá na frente, vai ser por um micróbio mais resistente. As pessoas ficam com muita ansiedade de ter que tomar alguma coisa. Toma analgésico se tiver dor de cabeça e toma antitérmico se tiver febre."