David Miranda em imagem de junho de 2019 — Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Arquivo
O corpo do ex-vereador e ex-deputado federal David Miranda, de 37 anos, será velado no hall do Palácio Pedro Ernesto, sede do Poder Legislativo municipal, no Centro do Rio.
O velório acontecerá nesta quarta-feira (10), das 14h às 17h, e a cerimônia será aberta ao público. O corpo de David será cremado nesta quinta (11).
Miranda estava internado há nove meses em uma unidade de tratamento intensivo da Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio, e, segundo seu marido, o jornalista Glenn Greenwald, “morreu em paz, cercado por nossos filhos, família e amigos”.
O ex-parlamentar foi hospitalizado em agosto de 2022 devido a uma inflamação e infecção na região abdominal. O político morreu na manhã desta terça-feira (9) depois de sofrer sucessivas infecções, em um quadro de septicemia.
David Michel dos Santos Miranda nasceu em 10 de maio de 1985, na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Sua trajetória política teve início em 2016, quando foi eleito pelo PSOL como o primeiro vereador declarado LGBTQIA+ da história da Câmara Municipal, priorizando a apresentação de projetos em defesa dos direitos desta comunidade.
Como vereador, foi autor da lei que garantiu o uso do nome social por travestis e transexuais no âmbito da administração municipal e a lei que determina a divulgação do Disque 100 contra o racismo, entre mais de dez normas das quais e foi autor ou coautor.
Em 2019, assumiu uma vaga de deputado federal, após Jean Wyllys deixar o país por receber ameaças de morte.
O político, que completaria 38 anos nesta quarta, deixa o marido, o jornalista Gleen Greenwald, e três filhos: João, Jonathas e Marcelo.
Snowden homenageia David
O ex-analista de sistemas da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) e da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos Edward Snowden prestou homenagens a Miranda.
O americano ressaltou a coragem do ex-parlamentar brasileiro após a revelação dos programas secretos de vigilância global de Washington, em 2013.
Miranda e Snowden, em 2014, em Hong Kong, na China — Foto: Divulgação
David Miranda esteve à frente da campanha pelo asilo ao ex-analista e também trabalhou ao lado de Greenwald na divulgação de detalhes do escândalo de espionagem.
As reportagens sobre o caso foram elaboradas a partir de documentos vazados da inteligência americana por Snowden.
O americano destacou que a morte de David era de "partir o coração".
"De todos que participaram das revelações de 2013 sobre vigilância em massa global, meu querido amigo David Miranda foi talvez o mais justo e puro. Jamais esquecerei que, quando o Reino Unido quebrou suas próprias leis para deter David como um 'terrorista' por ousar ajudar um ato de jornalismo - e ameaçou jogá-lo em uma masmorra pelo resto de sua vida - ele nunca vacilou. Em vez disso, ele os desafiou a fazê-lo. Foi essa coragem que o libertou", escreveu Snowden.
Em agosto de 2013, durante a escala de um voo em Londres, na Inglaterra, Miranda chegou a ser detido pelo governo britânico por conta do trabalho junto a Glenn. Ele foi interrogado durante nove horas no Aeroporto de Heathrow sob a lei antiterrorismo do país.
À época, as autoridades britânicas alegaram que o ex-político brasileiro estava envolvido com “terrorismo” quando foi detido tentando transportar documentos de Snowden, segundo a polícia e documentos de inteligência.