Giovanna Blasi prefere não ser chamada pelo nome de registro. Quando questionada pela reportagem do Fantástico sobre como gostaria de ser creditada, disse "Sistema Resiliência".
"Nós somos 18, contando comigo", respondeu ela após ser perguntada sobre a quantidade de identidades com que convive. "Aline, Aurora, Dandara, Aiana, Tatá, eu [Giovanna], Herbert, Isabella, Laura, Lina, Lua, Luara, Luiza, Maria Helana, Melanie, Momô, Jim e Ariel", listou.
A jovem de 21 anos tem transtorno dissociativo de identidade (TDI), uma condição psiquiátrica severa e rara, como mostrou a reportagem especial do Fantástico deste domingo (20).
Giovanna não trocou de identidade durante a entrevista. Mas quando a conversa terminou, o comportamento dela mudou. Uma das identidades, a Dandara, que se apresenta como protetora, apareceu com uma preocupação. "Eu sou a protector, é a minha função. [...] Eu fui totalmente contra ela se expor, mas eu entendo o propósito dela."
Em seguida, uma outra identidade surgiu, o Ariel. E foi o gatilho para a identidade Laura também falar. Veja vídeo acima.
No dicionário da TDI, o sistema citado por Giovanna seria composto por todos os alters, as identidades presentes naquele corpo. Quem fala ocupa o front, enquanto os outros alters estão no headspace no inconsciente da pessoa com TDI.
A Giovanna, ou Sistema Resiliência, conta que teve episódios traumáticos durante a infância, mas que prefere não falar deles. Há quase um ano, o que era visto como mudanças bruscas de humor interrompeu a vida dela.
"Eu fui afastada da faculdade e do trabalho por tempo indeterminado. Ainda estou afastada, porque eu estava disfuncional. Eu estava trocando muito, de uma forma descontrolada."
"Na época que eu entrei em crise dissociativa, eu trocava pelo menos 14 vezes por dia. [Hoje troco] Umas sete vezes, oito, depende muito."
O transtorno, em geral, aparece após situações como abuso sexual, abuso físico, negligência ou morte de alguém próximo na infância, por exemplo. É como se algo interno tivesse se quebrado, ficando aos pedaços. E, para aguentar sobreviver com lembranças de sofrimento, a identidade se divide em duas ou mais.
"Quando aparece outra personalidade, aquela que sofreu o trauma, não está mais lá. É outra pessoa que assume o lugar", explicou Bruna Bartorelli, chefe do Ambulatório de Transtornos Somáticos do IPq-HCFMUSP.
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