Uma cápsula espacial da Nasa transportando a maior amostra já coletada da superfície de um asteroide atravessou a atmosfera da Terra no domingo e caiu de paraquedas no deserto de Utah.
Agora, a rocha celestial, que pode conter pistas valiosas sobre a origem da Terra (leia mais abaixo), ficará nas mãos dos cientistas, que analisarão o material.
?Esta é a terceira e, de longe, a maior amostra de asteroide a ser trazida à Terra para análise, depois de duas missões semelhantes da agência espacial japonesa que terminaram em 2010 e 2020.
?A cápsula em forma de bala de goma, liberada da espaçonave robótica OSIRIS-REx, aterrissou em uma área prevista a oeste da cidade de Salt Lake City, em Utan. No local, ficam um vasto campo de testes e treinamento do Exército norte-americano.
A descida e o pouso finais, transmitidos ao vivo pela Nasa, encerraram uma missão conjunta de seis anos entre a agência espacial americana e a Universidade do Arizona.
A OSIRIS-REx coletou a amostra há três anos de Bennu, um pequeno asteroide rico em carbono descoberto em 1999. A rocha espacial é classificada como um "objeto próximo à Terra" porque passa relativamente perto do nosso planeta a cada seis anos, embora as chances de um impacto sejam consideradas remotas.
? Aparentemente formado por uma coleção de rochas soltas, como uma pilha de entulho, Bennu mede apenas 500 metros de diâmetro, o que o torna um pouco mais largo do que o Empire State Building - um dos mais icônicos prédios de Nova York -, mas minúsculo em comparação com o asteroide Chicxulub, que se chocou com a Terra há cerca de 66 milhões de anos, eliminando os dinossauros.
Relíquia
Imagem feita pela Nasa mostra o asteroide Bennu, que teve uma amostra coletada em 2020 e que chegou à Terra em 24 de setembro de 2023. — Foto: Nasa/ Goddard/Universidade do Arizona via Reuters
Assim como outros asteroides, Bennu é uma relíquia do início do sistema solar. Como sua química e mineralogia atuais estão praticamente inalteradas desde que se formou há cerca de 4,5 bilhões de anos, ele contém pistas valiosas sobre as origens e o desenvolvimento de planetas rochosos como a Terra.
Ele pode até conter moléculas orgânicas semelhantes às necessárias para o surgimento de micróbios.
?Há três anos, a missão japonesa Hayabusa2 recuperou amostras de Ryugu, outro asteroide próximo à Terra, contendo dois compostos orgânicos, reforçando a hipótese de que objetos celestes como cometas, asteroides e meteoritos que bombardearam a Terra primitiva semearam o jovem planeta com os ingredientes primordiais para a vida.
?A OSIRIS-REx foi lançada em setembro de 2016 e chegou a Bennu em 2018, depois passou quase dois anos orbitando o asteroide antes de se aventurar perto o suficiente para coletar amostras de material solto da superfície com seu braço robótico em 20 de outubro de 2020.
A espaçonave partiu de Bennu em maio de 2021 para uma viagem de 1,9 bilhão de km de volta à Terra, incluindo duas órbitas ao redor do Sol.
??A cápsula entrou na atmosfera superior a 35 vezes a velocidade do som, cerca de 13 minutos antes do pouso, e brilhou em brasa enquanto se aproximava da Terra. Esperava-se que as temperaturas no interior da espaçonave atingissem 5.000 graus Fahrenheit (2.800 °C).
Os paraquedas foram acionados perto do final da descida, reduzindo a velocidade da cápsula para cerca de 20 km/h antes de aterrissar suavemente no chão do deserto do noroeste de Utah.
A amostra de Bennu foi estimada em 250 gramas, superando em muito os 5 gramas transportados do Ryugu em 2020 ou o minúsculo espécime entregue do asteroide Itokawa em 2010. Mas a quantidade de material entregue no domingo só será quantificada com mais precisão daqui a uma semana.
Uma equipe de recuperação de cientistas e técnicos estava de prontidão para recuperar a cápsula e confirmar se a integridade da espaçonave e do contêiner interno que contém o material do asteroide foi mantida durante a reentrada e o pouso.
Seu objetivo era manter a amostra intacta e livre de qualquer contaminação terrestre.